segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CONTANDO DIAS CONTADOS

Era uma tardezinha de primavera. A menina sorridente não sorria mesmo, de forma alguma. Quais seriam os motivos que transformaram seus problemas – minúsculos, comparados ao Universo - em lágrimas tão gigantes assim? Mesmo tristonha ela parecia feliz. Ela era muito feliz mesmo. Se não era, parecia. Então, antes de dormir (com os olhinhos inchados, coitada!) ela desejou muito que não houvesse dia seguinte. Mas desejou e desejou. E então desejou de novo. E quem pode dizer se um pouco antes de pegar no sono não desejou mais uma vez? Pode ser que tenha até sonhado com isso e falado... Mas se alguma menina sozinha fala dormindo num quarto no meio da noite, será que alguém ouve?
O fato é que no outro dia ela acordou, vestiu-se, comeu um bolo e, ainda mais uma vez antes de ir pra escola, coçou a idéia na cabeça - queria que hoje não existisse...
O tempo passou. Ela cresceu.
Se ela casou e teve filhos, ninguém sabe. Se foi feliz a maior parte do tempo, também ninguém sabe, mas ninguém poderia ser infeliz tendo sido tão alegre um dia.
Mas o tempo passa para todos e certamente antes de morrer se esqueceu do que um dia desejara tanto.
Ela morreu, e todos de sua época também. E das épocas futuras também, e assim por diante. Até que tudo morreu (ou se transformou, como diria Lavoisier).
E no dia do juízo final, Deus notou que faltava um dia.

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